Wanderley Bernardes

“Continuando na luta pela seleção e melhoria do búfalo no Brasil, com tantos outros criadores, estamos novamente na Exposul. Não temos a melhor representação da raça nos animais que trouxemos da Paineiras. É provável que consigamos alguns títulos, no máximo de Reservado de Campeão. Mas o contato, a troca de informações e o calor da amizade,  reanima os criadores.

Verifica-se que embora um pequeno número de criadores seja mais afeito a frequentar as caras e difíceis feiras e exposições, o búfalo vem crescendo em quantidade e qualidade, apurando-se também o nível de criadores, ou seja, permanecendo na atividade aqueles que se afinaram com a natureza e o manejo do búfalo e pretendem manter-se definitivamente nessa atividade. As explorações leiteiras e de carne vão se definindo aos poucos, acentuando-se uma ou outra em cada região, de acordo com suas vocações, confirmando as habilidades da espécie bubalina como animal misto.

Verifica-se também um grande número de técnicos que através das cadeiras de bubalinocultura das faculdades e de visitas a criatórios, têm hoje um conceito da real importância da espécie. Quando recebemos visitas, principalmente de estudantes de zootecnia, veterinária e agronomia, em grupos geralmente de trinta a sessenta alunos, verificamos que se despedem, na maioria, realmente interessados e motivados para trabalharem com a espécie. Nessas oportunidades costumamos repetir que se temos dois contadores de vantagem, o caçador e o pescador, devemos acrescentar agora, o criador de búfalos. Isso porque somos obrigados a contar vantagens sobre o animal que, sem dúvida, supera o seu parâmetro mais próximo, o bovino, em tudo.

E começamos mostrando-lhes uma sola batida de couro de búfalo, com 11 milímetros de espessura, sem nos esquecermos de mencionar que as de 15 mm são comuns. Nesta altura, mostrando-lhes a utilidade prática do couro, exibindo-lhes a sela de nossa própria fabricação, da mais alta qualidade, inteiramente de couro de búfalo.

Osmar Bernardes – Selas de couro de búfalos

Depois lhes falamos da longevidade produtiva do búfalo, que como regra, e não como exceção, vai para além dos 15 anos, havendo casos concretos, como temos para exibir na fazenda, animal com 21 crias sem interrupção, e mais uma no ventre.

E assim por diante, mostramo-lhes na ordenha sem peia nem cordas, mecânica ou manual, a docilidade total do rebanho. Mostramo-lhes a média crescente da produção leiteira e falamo-lhes do grande potencial do búfalo nessa atividade, lembrando-lhes sempre o fato de que uma búfala produzindo 10 kg de leite está na realidade, produzindo 20 kg em valor industrial e que nesta altura, o rebanho bubalino já não deve nada às girolandas em volume de produção e estão em marcha para se igualar às raças holandesa e outras especializadas, visto que no Brasil já temos búfalas com produção igual ou superior a 5.000 kg de leite por lactação, revelando na incipiente seleção, grandes potencialidades genéticas.

Mostramo-lhes ainda o desenvolvimento normal dos bezerros sujeitos à exploração leiteira de suas mães, que com um ganho de peso entre 350 e 400 gramas/dia, têm condições, através de ganho compensatório após a desmama, de igualar-se em rendimento àqueles criados com todo o leite. Mostramo-lhes ainda em relação ao bezerro que pode ser “desmamado” aos 90 dias, desde que com 80 kg de peso e suplementado na alimentação, sem um custo antieconômico.

Mostramo-lhes que o búfalo pode ser criado até com utilização de chuveiros, na falta de rios e represas, pois a sua necessidade maior é a de hidratar a pele, e que a sombra pode contribuir até com 50% dessa necessidade. Cientificamo-lhes da facilidade na coleta de sêmena nível de fazenda e do seu alto rendimento nas inseminações.

Lembramo-lhes também que o búfalo exige manejo adequado à sua espécie, tendo em vista que sua natureza difere da do bovino. Que seus hábitos são diversos, e que assim como se fossemos criar cabras teríamos que dar-lhes uma manejo para cabras e não o de bovinos, também temos que fazer o mesmo com o búfalo, pois do bovino ele só tem a semelhança física e o fato de ser ruminante. Lembramo-lhes que os principais fatores de contenção dos búfalos são três: pasto, água e por último, a cerca, advertindo-lhes que cerca caindo ensina o búfalo a varar e que o varador ensina o rebanho. Atender a exigência do seu manejo é largamente compensada pelo seu incomparável rendimento em relação a qualquer raça de bovino em igualdade de condições. E aí, deixamos claro que para a criação de búfalos não há encarecimento das instalações, simplificando-se a sua alimentação, em cujo particular, ele é realmente mais rústico, aproveitando alimentos mais grosseiros.

Não deixamos que eles saiam da fazenda, enfim, sem a certeza de que o búfalo tem, pelas suas extraordinárias qualidades, uma caminhada irreversível no Brasil e em outras partes do mundo, já que ele é um dos poucos animais que não encontram limitação do seu desenvolvimento na diferença de climas, sendo criado desde as proximidades das geleiras do Himalaia até as regiões mais quentes da África, do Norte e Nordeste brasileiros, assim como no Sul do país.

Não nos esquecemos de dizer que o título de animal de dupla aptidão cabe também com primazia ao búfalo, visto oferecer seu leite excepcionais qualidades, gerando produtos de alto conceito reconhecido em quase todos os países do mundo, e a carne, que podemos considerar a melhor entre todas se: tem 12 vezes menos gordura, menos calorias, baixo colesterol, mais proteína, mais saborosa, superando em maciez todas as raças de bovinos, inclusive os produtos de cruzamentos desde que oriunda de animal não estressado no abate, que deve ser feito até os 30 meses de idade, no máximo até os 36 meses”. (as visitas normalmente eram acomapnhadas de um churrasco com carne de búfalos)

“Com relação à qualidade dos produtos lácteos, oferecemo-lhes a linha de nossa produção  para degustação e mostramo-lhes a simplicidade e ao mesmo tempo os cuidados com o processo de fabricação. Falamos sempre das perspectivas de superação na qualidade dos derivados do búfalo em geral, à medida em que se desenvolvem as pesquisas a seu respeito, um prato cheio para profissionais interessados. De tudo isso tem resultado extensa lista de pedidos de estágio, que atendemos na medida do possível.

Falamos também a eles da importância do fomento à criação desse animal para a economia de qualquer país e damos um exemplo do resultado que obtivemos em nossa região, com a distribuição de búfalos em parceria, não nos esquecendo de dizer da taxa de crescimento do rebanho bubalino no Brasil e da previsão de que em aproximadamente 30 anos, teremos cerca de 50 milhões de cabeças e que quem não acompanhar o desenvolvimento do búfalo, ficará à margem do mais promissor segmento da pecuária brasileira.

Do ponto de vista prático, já temos que registrar a diferenciação do preço do leite de búfala em relação ao leite bovino, havendo fortes indícios de que poderemos ter no búfalo uma pecuária leiteira rentável e animadora, diferentemente do que ocorre com o bovino, via de regra deficitária e desanimadora.

Falamo-lhes ainda sobre a adequação dos curtumes ao preparo do couro do búfalo que também vem ocorrendo, registrando-se diversos estabelecimentos no Rio Grande do Sul, no Paraná e em São Paulo, que não rejeitam os couros e que já apresentam com eles materiais de boa qualidade, possibilitando a confecção de produtos também diferenciados. Quanto à carne, está sendo objeto de sério trabalho de introdução no Rio Grande do Sul, agora no Paraná e brevemente em São Paulo, o que nos livrará da desagradável desvalorização do animal pelos frigoríficos, que descobriram nesse comportamento uma forma de ganhar mais,  comprando búfalo barato e vendendo “carne bovina” a preços normais, já havendo até preços com  ágio, em se tratando de partes mais nobres como a picanha e a maminha.

Em face da necessidade de aumento do rebanho bubalino, pois seu derivados têm demanda reprimida, sendo insuficiente tanto a carne como os produtos do leite, para uma contratação de fornecimento regular, conclamamos os companheiros a trabalharmos com mais afinco na multiplicação dos criadores, com menos timidez e maior agressividade. O processo utilizado por nós, de fomento de criação através de parcerias e também pelo governo do Estado de São Paulo no Vale do Ribeira, com absoluto sucesso, deve ser imitado por criadores em várias regiões do país, agilizando o crescimento do rebanho e o seu fortalecimento como espécie de superior categoria…

Conclamamos os companheiros a passarmos da passividade e expectativa de que o búfalo continue implantando-se  por si mesmo, como vem ocorrendo, para a agressividade no incremento de sua produção. Para tanto é necessário divulgação através de Associações, mas, principalmente um ação efetiva por parte dos criadores no corpo a corpo com tradicionais criadores de bovinos, além de oferecer estágios a estudantes; introduzindo a carne e o leite entre os consumidores; fomentando a criação nas circunvizinhanças de sua propriedade, oferecendo animais em parceria, o que em nosso caso resultou após 12 anos no surgimento, num raio de 80 km da propriedade, de mais de 50 criadores que agora já se multiplicam espontaneamente

Wanderley montando Coqueiro

Wanderley Bernardes
Hotel em Piraquara, junto a Curitiba 15/10/94

2 respostas a “Wanderley Bernardes- 1994 – Hotel em Piraquara”

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