Seja qual for o sistema de manejo, necessitamos fornecer a dieta ao rebanho que permita que os animais expressem seu potencial produtivo. Em nosso meio, o sistema mais frequente de exploração é o sistema a pasto, em que a maior parte do alimento consumido pelos animais é por ele colhido em parcelas de pastagens cujo tamanho, composição, lotação, tempo de permanência, situação à entrada e saída dos animais são determinados pelo criador.

Como se sabe, a composição das pastagens numa mesma área varia constantemente em função da qualidade das gramíneas, fertilidade do solo, luminosidade, temperatura, umidade, etc., e em função da oferta de gramínea, da lotação e do estado dela, o consumo pelos animais pode variar substancialmente.

Em bovinocultura leiteira, buscando simplificar os sistemas de produção, é frequente observar recomendações gerais tipo fornecer 1 kg de concentrados para cada 3 litros de leite produzido ou algo similar. Para bubalinos já vimos sugestões semelhante, reduzindo, porém, a proporção para algo como 1 kg para cada 2,5 litros, em função, provavelmente, do maior teor de sólidos do leite.

Observando as recomendações da “tabela simplificada” que mencionamos em matéria anterior (http://blog.ingai.agr.br/2020/01/02/dieta-de-bufalas-em-lactacao-modelo-simplificado/) verificamos que a demanda para produção de 1 litro de leite de búfalas seria de 600 g de NDT e 135 g de PB. Se imaginarmos uma “ração” comum para bovinas leiteiras com composição de 18% de PB e 70% de NDT, verificaremos que 1 kg de ração conteria, pois, 700 g de NDT (suficiente para produção de 1,17 litros de leite) e 220 g de PB (suficiente para produção de 1,33 litros de leite), ou seja, muito menos que os 2,5 litros sugeridos o que, juntamente com a exigência para manutenção, deverá ser suprido pela pastagem.

Uma forma de abordar o problema seria verificar as exigências dos animais em função do seu nível produtivo, analisar a pastagem oferecida e, se necessário, complementar com o concentrado o que faltar… Mas há uma dificuldade adicional que é a constatação de que o animal não necessariamente consome toda a planta oferecida pois, se houver baixa lotação, ele é capaz de colher apenas porções mais nutritivas na planta e, se a planta estiver muito passada, ela não é capaz de ingerir o volume necessário para sua capacidade produtiva, e se a lotação for elevada, a possibilidade de escolha pelo animal se reduz.

Uma aferição indireta da composição da pastagem colhida pelos animais consiste em deduzir das exigências nutricionais do rebanho em função de se histórico produtivo, os nutrientes aportados pelos concentrados consumidos e assim, por diferença, estimar a composição colhida. A partir da composição assim estimada, podemos recalcular o volume de concentrados a ser fornecido para atender a produção pretendida face à composição da pastagem colhida..

Exemplificando, imaginemos um rebanho que tenha uma produtividade média de 2.400 litros, com média diária de cerca de 8 litros e duração de 300 dias (mais ou menos com pico médio de 12 litros). Este rebanho será mantido em pastagens em bom estado à entrada (sem excessiva quantidade de folhas mortas ou talos). Utilizando a tabela de exigências já mencionada verifica-se a seguinte demanda (IMS=ingestão diária de matéria seca):

Ou seja, a demanda diária para atender esta produção seria a ingestão  de 14,9 kg de MS, 8,9 kg de NDT (59,7%) e 1.680 g de PB (11,3%). Observando tabelas de composição de pastagens, verificamos que uma pastagem média de braquiária teria cerca de 55% de NDT e 8,0% de PB, ou seja, apenas a pastagem, não seria capaz de atender a demanda para produção de 8 litros diários, necessitando-se de suplementação de concentrados que no nosso caso será uma ração comercial com 18% de PB e 70% de NDT.

Utilizamos o método denominado “quadrado de Pearson” para aferir a proporção de volumosos (com 55% de NDT) e concentrados (com 70% de NDT) necessária para compor uma dieta que contenha as exigências calculadas (59,7% de NDT) e verificamos a necessidade de consumo de 4,7 kg de ração. Assim sendo, excluindo das exigências o fornecido pela ração, verificamos uma demanda de volumosos com a composição abaixo, com 55% de NDT e 8,2% de PB, compatível com a composição na braquiária.


A fim de aferir a exatidão da estimativa, efetuamos um controle leiteiro e, digamos, observamos a produção média do lote de apenas 7 litros, inferior, portanto, aos 8 litros estimados o que sugere que a pastagem colhida pelas búfalas não apresentava a composição esperada. Para estimar a composição efetivamente colhida, estabelecemos então a demanda para a produção observada (7 litros), deduzimos os nutrientes fornecidos pela ração e, o volume/composição resultante representará a estimativa da composição da pastagem consumida pelas búfalas como demonstrado abaixo.

A pastagem portando teria 51% de NDT e 7,1% de PB e,  com base nesta  composição da pastagem efetivamente ingerida, recalculamos a demanda de ração para que os animais produzam a média de 8 litros que pretendíamos que, usando novamente o quadrado de Pearson, verificamos ser de 6,8 kg diários de ração .



Desta forma, com a “tabela simplificada” e a aferição da produção, nos foi possível estimar qual a composição da pastagem que a búfala comeu.

Pode ocorrer que além da variação da produção estimada, o animal apresente ainda variação de peso e, como sabemos, a perda de peso corporal pode fornecer energia e proteínas para a produção, o que irá alterar os cálculos a serem efetuados …. mas isso fica para uma outra vez.

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