Em 07/06/2012 morreu a búfala “Gilete da Ingaí” que para nós teve uma importância significativa pelo fato de ser a primeira fêmea da espécie que ultrapassou em nossa propriedade a marca de 5 mil kg de leite numa lactação até 305 dias. O registro da sua performance produtiva nos parece relevante por apontar o potencial das búfalas .

Nascida em 03/01/1993, o animal teve sua primeira cria aos 35 meses (1.104 dias) e, posterior-mente, com um intervalo interparto médio de 427 dias, teve um total de 15 crias, sendo 14 lactações controladas, tendo morrido 3 dias após o último parto, após um novo prolapso de útero (havia tido outro após a 14ª cria que foi reduzido, tendo sido enxertada 55 dias após o parto).

Em sua vida produtiva, permaneceu 1.718 dias seca (57 meses) e 4.273 dias em lactação (142 meses), com média de exatos 305 dias de duração por lactação, tendo totalizado a produção de 51.278 kg, o que representa uma produção média de 3.663 kg por lactação e, portanto, uma média de 12 kg de leite por dia em lactação ou, 8,5 kg de leite por dia de vida após seu primeiro parto. Seu pico produtivo ocorreu na 7ª lactação quando produziu 5.141,8 kg de leite em 337 dias, ou seja, 5.017 kg até 305 dias, com um pico de produção diária de 22,7 kg em duas ordenhas e sua melhor produção média diária numa lactação foi de 16,3 kg na 6ª cria.

Considerando a composição do leite de búfalas com 1,8% de cálcio e 0,9% de fósforo, “Gilete” , apenas para suprir o conteúdo destes minerais no leite que produziu, necessitou de 923 kg de cálcio e 460 kg de fósforo. Para dimensionarmos tal demanda, verifica-se que ela seria atendida com um consumo de 5.430 kg de sal mineral (com 17% da cálcio e 8,5% de fósforo), ou seja, com o consumo por dia em lactação de nada menos que 1,27 kg !!!!
“Gilete” foi para nós um exemplo de nossa ignorância sobre as demandas nutricionais da espécie posto que, utilizando as recomendações nutricionais hoje disponíveis, verificamos que para produzir os tais 5.100 kg de leite, ela deveria estar consumindo 2,8% de seu peso corporal em matéria seca (18,4 kg/dia) de uma dieta com 15,6% de proteínas e 77% de NDT. Ocorre que nossas pastagens tropicais têm em média de 5 a 14% de proteínas e 50-57% de NDT e a complementamos com uma mistura de concentrados com composição média de 24% de PB e 71% de NDT, ou seja, mesmo que só comesse o concentrado este não atenderia a demanda. Imaginamos que ela então se valeu das reservas corporais, mas um déficit desta magnitude certamente seria improvável. Aparentemente, Gilete contornou o problema aumentando a capacidade média de ingestão ou possui maior digestibilidade que a média observada nos trabalhos.

O fato é que, tal melhora de eficiência tem limites e o animal no deixou isto muito claro ao confrontarmos a produção por lactação o período de serviço (segunda linha de cima para baixo comparada com ultima no gráfico), em que se nota que depois de uma lactação mais expressiva, o animal demorava mais para emprenhar como que dizendo que para atender ao maior potencial de produção com o manejo alimentar oferecido, foi necessário comprometer a fertilidade. Um bom indicativo de Gilete a nossos pesquisadores de um campo a explorar.

“Gilete” é filha do touro “Palanque da Ingaí”, animal que teve seu potencial genético para produção leiteira aferido por pelo menos duas pesquisas, sendo considerado um dos animais de melhor mérito genético para leite, porém, sua mãe, criada num período de baixa oferta alimentar, atingiu pico de apenas 7,3 kg de leite e a melhor lactação foi de apenas 1.328 kg, o que destaca que não é eficiente tentar fazer seleção sem que se oferte aos animais manejo adequado.


Otavio 07/06/2012

7 respostas a ““Gilete da Ingaí” – uma vida produtiva”

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